domingo, 4 de abril de 2010

ESTUDO:O Perigo dos “Jargões Evangélicos”


Doutor em Lingüística pela UFRJ, alerta para barreira criada entre cristãos e não cristãos na hora de falar o “evangeliquês”.
Não é muito difícil conversar com uma pessoa e perceber que o vocabulário dela contém algumas palavras que possam ser diferente do seu, mas que certamente irá caracterizá-lo a um grupo específico de pessoas. Por exemplo, o pessoal da informática tem diversas abreviações de palavras ou ainda de termos em inglês, que para quem não conhece fica completamente perdido na conversa. Da mesma forma, também tem os góticos, médicos, funkeiros etc.
Na comunidade cristã não é diferente, os jargões muitas vezes completam uma frase que pode não fazer sentido algum para quem não professa a mesma fé. Por exemplo, quando alguém pergunta: “E aí como foi o congresso de jovens?” E o crente responde: “Ah, foi uma benção, Jesus operou maravilhosamente. O pastor pregou com muita unção e a cantora apresentou seu cd, que era um sonho que estava no coração de Deus. A igreja recebeu muito poder e recebeu muito poder e teve manifestações de curas e milagres”. Se colocarmos esta frase ao pé da letra, nada faz sentido, mas qual crente não entende completamente o que foi dito? Na verdade, essas expressões são conhecidas como jargões, que quer dizer, todas as palavras que embora o sentido possa não constar no dicionário ainda, contudo já tenha caído em uso comum.
O glossário evangélico fica mais evidente quando se trata das igrejas pentecostais, onde há espontaneidade dos cultos e maior abertura para manifestações do Espírito Santo. “Levita”, por exemplo, não é conjugação do verbo levitar. Trata-se do crente que exerce alguma atividade ligada ao louvor. Entrar na carne não é ir à uma churrascaria e sim sair dos mandamentos de Deus.
São muitas as palavras utilizadas pelos crentes, “canela de fogo”, “reprepré”, “benção”, “misericórdia” e milhares de outras. Porém engana-se quem acredita que isso é uma criação da sociedade moderna. O Professor e doutor em Lingüística pela UFRJ, Nataniel Gomes, explica que os jargões evangélicos surgiram a partir do uso da Bíblia, escrita em outra cultura, num outro tempo e por um outro povo.
“O uso freqüente faz com que acabemos utilizando tais expressões como nossa identidade. São expressões que uma boa parte da população não conhece. É necessário cuidado no uso deste tipo de vocabulário. O abuso no emprego de jargões cria uma barreira entre cristãos e não-cristãos, inclusive, com um vocabulário que identifica aqueles que dominam e os que não dominam o falar ‘religioso’, que pode conter um ar de espiritualidade que afasta e causa estranhamento”, alerta Nataniel.
Além disse, diz ele, há uma ligação entra a teologia da prosperidade e o uso de algumas expressões que são usadas fora do contexto. Elas fazem parte do contexto de Israel no Velho Testamento e acabam sendo ditas de forma irresponsável, como aquela que diz que os cristãos ’são cabeça e não cauda’, entre outras atrocidades lingüísticas.
Por Diane DuqueExtraído da Folha OBPC – Edição n º43 / outubro de 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário